terça-feira, 6 de agosto de 2013

O VELHO E O NOVO: O QUE É ISSO?

O VELHO E O NOVO: O QUE É ISSO?
A idéia de mudança está intimamente ligada ao conceito do novo estabelecendo ruptura com o velho. A historiografia mundial especialmente na Europa, Ásia e no Norte da América, verificou-se alguns processos de ordem eminentemente políticos que traduziram essa conceituação numa concepção renovada (em 1789, a Revolução Francesa, em 1775-1783 a independência dos EUA da colonização da Grã-Bretanha e, mais recentemente, a Índia, se libertando também, da Inglaterra com Mahatma Gandhi – a Grande Alma -, no ano de 1947; na América Central, Cuba em 1959 e a China em 1949 e etc.). Partindo desses pressupostos históricos podemos imprimir uma avaliação mais contundente e, mais real sobre os últimos acontecimentos ocorridos em nossa Codó envolvendo os políticos que buscam incansavelmente manter o controle do aparelho de estado local. A disputa entre esses políticos assume uma conotação especifica: a de que só é possível transcorrer a disputa pelo poder político pelos representantes da burguesia. O resto é para ajuizar tal fato.
A comunidade codoense (denomino comunidade codoense os diversos setores classificados pela sociologia e sua estratificação social) está em sua grande maioria, completamente divorciada dos fatos políticos recentes – diga-se de passagem, sobre as decisões de cunho histórico tomadas pela Justiça Eleitoral e Ministério Público atingindo os principais líderes locais. O que está ocorrendo na internet sobre tal questão são alguns comentários velados e capciosos que não demonstram a totalidade da opinião pública, pois, percebe-se apenas a evasiva opinião truncada dos pseudocomentaristas argüindo posicionamento herético e distorcida, como se isso, fosse o pano de fundo da verdadeira mudança estrutural no campo político. Outro elemento que insurge como novidade, a partir da matéria postada pelo blogueiro Acélio estimulando a participação do que ele classifica como novo1 e cita um elenco de cidadãos - e, indistintamente -, todos, sob seu ponto de vista, são figuras públicas com capacidade política de serem uma esperança e uma novidade, entendendo assim, um momento de transição de um ciclo viciado completamente esgotado em que a presença predominante das denominadas “raposas” políticas antigas estão fora de questão para dar conta da atual contemporaneidade e suas implicações.
É necessário que façamos uma avaliação mais acurada e responsável sobre esse novo momento. Partindo de uma indagação: ocorrerá, de fato, uma eleição suplementar? Os elementos postos são suficientes? Se os são, inevitavelmente, seremos comunicados oficialmente pela Justiça. E a especulação deixará de ser mera especulação e tornar-se-á um fato concreto. E a partir dessa nova realidade, será o momento de mobilização e articulação entre os diversos campos e forças políticas estabelecendo o dialogo na perspectiva de fomentar a unidade na diversidade consolidando assim, um bloco ou, diversos blocos para disputar o aparelho de estado local.
Gostaria, no entanto, de aprofundar minha opinião sobre essa conjuntura que se apresenta e suas prováveis alterações. Primeiro desejo reafirmar que o processo crítico é construído sobre uma dada base real, portanto, existente. Segundo opero com uma categoria denominada dialética, objeto que trás elementos indispensáveis para uma formulação teórica de um fato social. Terceiro espero não ofender ninguém, pois, o verdadeiro propósito é avaliar com independência e autonomia a nova realidade social oriunda da política.
Iniciemos analisando o caráter político desse processo visando extirpar o véu que encobre o verdadeiro conteúdo político dessa batalha judicial e seus desdobramentos inefáveis.
O ponto fundamental esbarra numa dicotomia histórica: de um lado, a velha ordem sustentada pelas clássicas figuras tarimbadas que nunca tiveram a sensibilidade social de responder à altura às necessidades vitais da comunidade codoense bem como a processualização de um projeto político reformador capaz de proporcionar/alterar as relações sociais e as condições de vida da comunidade codoense - é o que classifico de mandatários conservadores. E, de outro, alguns elementos que – homens públicos pertencentes à classe trabalhadora dispostos a enfrentar os políticos tradicionais e conservadores, p. ex. a lista apresentada pelo blogueiro Acélio, com exceção de um nome que é oriundo da classe alta politicamente representa a extrema direita codoense -, timidamente, ousam enfrentar essa velha ordem. Temos, na realidade, uma eqüidistância bastante significativa quando a questão é a disputa entre os ‘revoltados’ – definição dada pela própria comunidade – no sentido de reafirmar o conteúdo da velha ordem e condenar os ‘revoltados’; como se os mesmos não tivessem a capacidade para governar e, isso, compromete de maneira profunda a perspectiva de inovação contra a velha ordem e a implantação de um modelo democrático e plural.
A perspectiva sob a possibilidade de se constituir uma alternativa nesse processo de alteração do velho e o surgimento do novo fica evidente uma coisa: o discurso propalado de que este – eleição suplementar - é o momento impar para a consolidação de uma unidade entre as diferentes forças opositoras aparece internamente uma dificuldade, a de quem, de fato, será o nome que simbolizará essa unidade e que tenha força social para aglutinar em torno de si uma parcela considerável da comunidade para legitimar tal mudança. O novo grupo que proclama para si a responsabilidade do papel renovador deve ter consciência plena da brutalidade que enfrentará durante o processo eleitoral, a velha ordem não se considera derrotada nunca e estará sempre procurando se safar para permanecer no controle do aparelho de estado local.
Na verdade, quando há uma viabilidade entre as distintas correntes opositoras ocorre um processo de estereotipização ao nome que vai representar a unidade opositora. Explicito tal fenômeno pelo fato de já ter se manifestado em nossa cidade na década de 1990. E o PT era o carro-chefe desse processo político! Houve equívocos tanto de ordem tática quanto estratégica e o resultado desse processo se manifestou na secundarização do PT que, por sua vez, perdeu o “bonde da história” e agora, serve somente de força para as elites comandarem o aparelho de estado local. Espero que nesse novo momento não seja reproduzido o mesmo receituário.
Essa ‘garotada’ – repito, com exceção de um dos nomes que representa a classe dominante e o pensamento dessa fração partidária é de extrema direita - apontada pelo blogueiro Acélio que acreditam na esperança e na mudança e expressam essa utopia deve ter os pés no chão, pois, uma disputa política contra a velha ordem requer ousadia, compreensão da realidade e, sobremodo, uma proposta alternativa democrática e transformadora.   
A comunidade codoense espera o quê do futuro? A continuidade da hegemonia da velha ordem sob os auspícios de “raposas antigas” que não conseguiram se renovar e ainda permanecem num estagio medíocre de fazer política consagrando e conservando práticas condenáveis e, assim, fortalecendo a cultura miserável do “é dando que se recebe?”. A comunidade codoense precisa se desvencilhar dessa cultura opressiva e atrasada e, para isso, necessita fazer uma opção política pela decisão autônoma e não pela influencia do dinheiro como condição elementar na relação de escolha e de projeto para a cidade.
À hora de irromper com os mecanismos fraudulentos e opressivos é a capacidade do cidadão-eleitor em resistir a influencia do dinheiro oferecido pelas “raposas” esfomeadas pelo poder. A nossa história já sofreu muito com a política de ‘p’ minúsculo.
O lampejo da mudança estrutural que tanto se deseja só será sentido pela comunidade codoense quando, efetivamente, ela decidir romper com o ciclo vicioso nefasto e optar pelo processo de liberdade e autonomia, independência e seriedade. Enquanto permanecer a prática cultural da dependência, da subordinação, da corrupção consentida e da opressão que gera a omissão, jamais haverá uma relação de igualdade contemplada pela coletividade na possibilidade da mudança fundamental.
Enfim, o debate posto sobre a crise política que assola nossa cidade e a perspectiva de mudança substancial está apenas no crepúsculo do inconsciente social, torna-se indispensável que sejam realizados encontros, seminários, conferencias com a finalidade de propor o chamamento de toda a sociedade para inteirar-se dos fatos. Os partidos políticos locais podem e devem realizar suas reuniões e, assim, colocarem-se como alternativas, sugerindo as mudanças necessárias diante do atual quadro de crise. A visível cultura dos partidos em se articularem apenas no período eleitoral compromete toda uma gama de ações mais sólidas com os atores sociais defendendo o programa partidário e acreditando nessa proposta; porém, ocorre um processo vazio de alternativa, ou seja, de repente, aparece um candidato afirmando que é a grande mudança quando na realidade, ele nunca esteve participando de nenhuma manifestação, não é popular, usa de quando em quando a mídia para reafirmar sua insatisfação política com o quadro atual e afirma que é independente e coisa e tal. Ora, fazer política é estabelecer um vinculo estreito com a camada popular permanentemente e, convenhamos, o nome que aparece é muito próximo e típico da cultura burguesa, gosta de status quo excessivamente.
O nosso município está prenhe de facções e tendências políticas cerceando o aparelho de estado local. E nesse pormenor, não se consegue vislumbrar uma alternativa. Basta olharmos os dirigentes e suas relações comprometidas com os setores conservadores, de direita, da extrema direita e, ainda, de centro. Mas o partido mais importante que poderia ser a grande alternativa no porvir próximo permitiu ser dominado e contaminado pelo discurso da extrema direita e abandona por completo seu projeto original de mudança estrutural. Na verdade, ele perdeu o vigor ideológico, cedeu à lógica capitalista e foi capitulado.
Um grande entrave revela a pobreza cultural e teórica das facções e tendências existentes, isto, pode ser observado pelo modo como se desenvolve os processos de luta – eles se dão, ocasionalmente – somente no campo da acusação, violência e da prepotência. Ainda não consegui vislumbrar uma notação teórica coerente e intensa sobre as condições materiais de nossa sociedade traduzindo dessa forma um programa mínimo na busca permanente de soluções para os problemas sociais históricos.
Por fim, proponho às facções, forças e tendências políticas que se digladiam sistematicamente pela apropriação do poder político, que trabalhem na perspectiva de construir um esboço propositivo de desenvolvimento para o município a médio e longo prazo e permita a ascensão de um contingente de trabalhadores desempregados melhorando as condições de suas vidas.
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¹. O conceito novo assume uma característica de renovo, ou seja, de diferente, de renovação e de mudança. Contudo, é fundamental que a sociedade civil organizada aproprie-se dessa nomenclatura de forma dialética para poder compreender o sentido verdadeiro utilizado pelos homens públicos quando o pronuncia e com que estratégia e finalidade para a sociedade civil. É indispensável que a comunidade apreenda esse conceito e formule sua própria teoria – mesmo que de forma simplista – em relação aos fatos e seus desdobramentos e, assim, tenha condições de fazer sua opção de maneira lúcida e autônoma. Portanto, o sentimento de mudança que interage no cotidiano do homem comum apontará para uma compostura mais densa na perspectiva dessa sonhada transformação social histórica. O ponto chave dessa postura se assenta na possibilidade da plena liberdade e na independência cultural, econômica, social, política e ética dos cidadãos que desejam a transformação de nossa ciade.                

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

SEM PERDER A TERNURA E A ÉTICA

        SEM PERDER A TERNURA E A ÉTICA
Ao elaborar este pequeno texto, como sugere o seu título, o fiz apontando duas vertentes propondo uma reflexão mais acurada da relação social entre os atores sociais: 1ª. a necessidade de se avaliar e reavaliar a conjuntura histórica local e seus desdobramentos; 2ª. as condições a que são submetida a maioria dos membros da sociedade civil e sua incapacidade teórica de compreender as circunstancias nas quais se relacionam. Portanto, a nossa mediana potencialidade intelectual visa provocar uma fissura nos processos sociais culturalmente edificados pelos representantes da classe dominante local e, paralelamente, a esse processo de naturalização social, indicar elementos constitutivos para aclarar e fomentar uma discussão sobre a realidade social, política, econômica e cultural numa perspectiva democrática e libertária.
As premissas mencionadas acima se expressa como pré-condição para uma análise mais vigorosa tanto do ponto de vista social quanto politicamente; torna-se, portanto, uma necessidade. O elemento avaliativo histórico-conjuntural¹ permite que seja possível a idealização de uma sociedade menos injusta e mais problematizadora. Problematizar a tradição, os aspectos sociais, o caráter educacional, a estrutura da saúde, a tipologia cultural local, e etc., indica o nível teórico, organizativo e cultural da sociedade civil na perspectiva de desmembrar os alicerces conservadores que impedem o crescimento e o desenvolvimento social de forma equilibrada e harmônica entre os sujeitos sociais. Nesse processo o que vai gerar e determinar o nível e o grau de desenvolvimento da sociedade será a organização por intermédio de instrumentos populares. Não é possível transpor barreiras e obstáculos se não existir um contraponto que sugira uma alternativa consoante à realidade criticada. O fator primordial a ser posto como elo na constituição crítica da realidade social local é dotar os membros da sociedade civil com mecanismos que sejam suficientes para dar conta das tarefas propostas. Nesse processo, por conseguinte, se introduz temáticas variadas e com a possibilidade de materialização em toda sua dimensão social.  A sociedade civil não pode mais ficar à mercê meramente da vontade exclusiva do líder político que está à frente do poder público para executar e realizar as políticas sociais. É clara a compreensão de que o Poder Público tem a responsabilidade de implementar as políticas, contudo, é imperativo que a sociedade civil se manifeste de forma contundente e dinâmica. Todo processo social requer uma articulação planejada e com uma proposição demandando as principais reivindicações de caráter político e social. Apesar de haver tido uma grande conquista sob o ponto de vista constitucional em relação às urgentes necessidades do povo, compete agora, mais do que nunca, que o próprio povo se arme para enfrentar a inércia por parte dos órgãos apropriados na execução daquilo que está garantido na Carta Magna e faça a coisa acontecer.
É nesse peculiar horizonte teórico que proponho o necessário e instigante processo de avaliação histórico-conjuntural para servir de parâmetro a uma nova concepção política local. Dito de outro modo, através da organização de células sociais por bairros é possível sim, desenvolver atividades pontuando determinados campos e áreas de seu interesse. O objeto aqui posto tem uma finalidade: propor à sociedade civil codoense uma profunda discussão sobre o papel histórico do individuo enquanto ser social interventor na construção de uma cidadania desenvolvida, democrática e progressista. A reflexão sem dúvida semeia a teoria e a teoria propicia ao homem a condição elementar de interpretar o mundo de forma dialética, e dialeticamente propõe sua inevitável transformação revolucionária. Pensando nesse espectro, reafirmo, incondicionalmente, que, o revolucionário apaixonado pela causa popular entrega-se de corpo e alma em defesa de suas crenças e opiniões, por isso mesmo, ele jamais perde a sua ternura e, tampouco, abdica de sua ética como princípios inegociáveis.                    
A virada do século 21 trouxe consigo uma nota sublimada²: o desmantelamento da ética humana. Parece que tudo gira em torno da decadência, da indecência e da destruição. A razão perdeu seu norte e o irracional torna-se o ponderável. Esta naturalização social, certamente, propiciará um alto custo ao individuo e à sociedade civil como um todo.
Quando questiono o papel histórico-social do individuo e a possibilidade de sua intervenção na História, na Política e em outros setores sociais, é com uma nítida preocupação: a de encontrar na sociedade contemporânea homens capazes de declarar publicamente suas convicções, sem, contudo, se subordinar a quem quer que seja ou, se coloque numa condição de inferioridade, simplesmente pelo fato deste ou daquele sujeito ser abastado. Entendo que a relação social entre sujeitos deve ser precedida, indubitavelmente, pelo respeito; este componente é primordial para se estabelecer uma relação social harmônica e saudável. A partir dele, estaremos construindo os pressupostos imprescindíveis na perspectiva convergente. O individuo não pode ser neutro no percurso histórico em que está presente, muito menos, se transformar em ‘massa de manobra’ de outrem; o que o torna inválido e menosprezado (os dois termos aplicados aqui, em relação ao individuo, infere um conceito de desagregação e de dissolução da dignidade desse sujeito, de opressão mesmo). Por isso, a condição intelectual se constitui numa importante operação dinamizadora da capacidade teórica enquanto ser que se relaciona e objetiva sua subjetividade. O principio da relação igualitária socialmente independe da condição socioeconômica dos sujeitos, o que pressupõe a liberdade do individuo é a sua força moral, intelectual e ética; o fator econômico não é determinante numa relação social entre os atores sociais, mas, sim, a capacidade de argumentar, emitir e contrapor opiniões com autonomia, independência, responsabilidade e consciência social.
A realidade social construída na pós-modernidade enfrenta problemas de ordem ético-moral onde tais valores estão sendo compilados e submetidos a um processo degenerativo e, claramente, irreversível. A conduta e a condição humana na atualidade (contemporaneidade) expressa o viés da lógica balizada na cultura antiética. A virtude, portanto, deixa de ser um componente essencial na relação social e passa a ter uma função invertida, pois, o sujeito no contexto histórico contemporâneo está encantado e deslumbrado com a idéia de se tornar um homem ‘bem-sucedido’ no seio do sistema capitalista e, mormente, sendo alimentado por outros sujeitos que, ao longo de uma imensa jornada de trabalho conseguiu acumular uma considerável riqueza e, com isso, tenta convencer outros de que é possível realizar sonhos grandiosos! A acumulação capitalista é propensa a produzir indefinidamente um bolsão de miseráveis; mesmo aqueles que trabalham, reproduzem gratuitamente, um excedente de capital para o capitalista e sua condição social permanece a mesma ou, então, agrava-se. Ou seja, o trabalhador permanece cada vez mais pobre e o maldito capitalista continuará cada vez mais rico.
Pensar teoricamente uma nova sociedade e um novo homem será preciso recuperar o sentimento de coletividade entre os sujeitos explorados pelos capitalistas. A principal linha de raciocínio permeia o mundo político e quem está no comando. E partindo desse pressuposto, torna-se inadiável que se insurjam novos teóricos capazes de provocar questionamentos importantes como: a participação popular na elaboração de políticas públicas; democracia participativa, propor mudanças na estrutura política – reforma do judiciário, fiscal, política e etc. Talvez sob o ponto de vista ideo-político essa tese esteja bastante ‘desacreditada’, contudo, é fundamental reavaliar sua verdadeira função e importância com a efetiva participação da sociedade civil. A verdadeira concepção de política democrática é aquela em que a presença popular constitui o elo intrínseco direcionando o modelo político de forma concreta – e os membros da sociedade civil organizada, os representantes de entidades de classe, os articuladores sociais e os intelectuais progressistas devem ter como indutor de suas ações um programa alternativo denso e condensado numa perspectiva democrática e libertária. É nesta perspectiva que será possível a conquista do poder político pelo povo.
Mas, deixando um pouco de lado, a questão política e seus tenebrosos desdobramentos, voltemo-nos à questão central proposta inicialmente: o desmantelamento da ética humana.
A concepção pós-moderna de sociedade aponta para o homem um caminho completamente divorciado daquele que se manifesta na igualdade, na liberdade, fraternidade, na transparência, na ética social; enfim, ela pressupõe uma nova cosmovisão ampliada dessa sociedade e seus desdobramentos internos. Vejamos um exemplo clássico disso: o homem é dotado de inteligência, porém, não é detentor de capital, e, então, submete-se a um processo de megaexploração pelo capitalista para garantir sua subsistência a ponto de ser considerado meramente uma mercadoria. Mercadoria na concepção do capitalista é apenas um objeto que se transforma em capital com vida útil datada. Outra característica pós-moderna é a inserção de um discurso  que endurece as relações entre os entes sociais: a competitividade exacerbada. Tal comportamento induz o sujeito a perder sua sensibilidade, tornando-o ‘duro’ e ‘cético’ em relação ao outro. A reprodução social pós-moderna desestrutura completamente os laços de solidariedade entre os entes sociais. Elege, por sua vez, a obstinação pertinaz como elemento intrínseco para o prazer do individuo como vencedor nesse processo violento de competição desmedida.
Finalmente, ressalto a importância do homem para captar a diversidade do campo social, sua dinamização, sua complexidade e compreender seu papel enquanto sujeito histórico, sem ser objeto de outrem. É fundamental redesenhar a arquitetura social e suas teias e colocar-se diante dela com autonomia, descrevendo-a minuciosamente. Se não ocorrer esse mecanismo dificilmente haverá uma projeção em relação ao desenvolvimento de sua cidadania. Na verdade, essa é uma condição necessária e urgente!
 O desmantelamento da ética humana é resultado concreto da alienação pervertida e promovida pelo sistema capitalista de tal modo que o sujeito não percebe o desenlace desse gigantesco edifício social e suas tramas urdidas no interior da sociedade. Ao tomar consciência de si e do mundo o homem se reconhece como ser ontológico. E, para ele, tal descoberta constitui-se numa vertente claramente libertadora, pois, o grau de apropriação dos saberes o colocará num patamar de igualdade e soberania em relação à casta burguesa privilegiada cultural e economicamente. Nesse processo, por conseguinte, estabelece-se uma distinção entre o passado, o presente e o futuro que o próprio ente social poderá trilhar e, ao mesmo tempo, ocupando-se de velar e/ou conservar o valor fundamental de sua dignidade e cidadania: a ética humana.
Quando o homem histórico irrompe com esse ciclo mordaz e deformador, logo em seguida, é posto a toda prova; pois, virá de encontro a ele um discurso moldado à cultura e à prática da maldita corrupção associada à conciliação e em defesa da unidade do atual estágio de coisas existentes. Em todos os espectros característicos dessa deformação ética presente em nossa vivência, o homem sapien (histórico) deverá submeter sua nova consciência a um processo de reflexão dialética, visando reelaborar o conceito ético-social; principalmente no sentido de estabelecer critérios fundantes quando de sua escolha e opção política (ou seja, ser capaz de distinguir um político aventureiro de um político íntegro e coerente com sua história de luta).
Ao tomar conta dessa realidade histórico-social, o homem livre passa a enxergar sua condição humana numa perspectiva real e cheia de possibilidade de ascensão social; melhor ainda, compreende a si e ao mundo. O ato de compreender a si e ao mundo aponta para um caminho de ruptura com o casuísmo, com o naturalismo redundante e com o próprio passado opressor. O homem histórico proclama uma nova forma de relação e comportamento social embasado na liberdade, no respeito e no amor. A interface dessa relação se complementa na unidade do desenvolvimento das estruturas sociais nos mais variados segmentos e, assim, integra-se o fator fundamental para a realização de um processo alicerçado na mudança democrática.
A construção utópica de uma nova sociedade e de um novo homem pressupõe a democracia e, de igual modo, a democracia deve sofrer um processo de agudização e radicalização: democratizar o poder político em que pese a intervenção direta da sociedade civil fazendo prevalecer sua teses renovadoras. Enquanto não correr tal processo dialético a atual estrutura de poder político conservador permanecerá intocável. A ruptura requer, por sua vez, a unidade popular. A única força capaz de dissolver toda e qualquer estrutura de poder é a unidade popular. A unidade popular tem que assumir a condição de movimento progressista com capacidade de induzir fortes alterações na estrutura de poder.
Não é mais possível a sociedade civil conviver com o atraso, o abandono, a falta de perspectiva de crescimento, de desenvolvimento e de qualidade de vida; por isso, tem que se articular sistematicamente experimentando novas experiências de natureza política e social, até recompor o verdadeiro sentido de coletividade e luta engajada. É com esse espírito que se formará uma nova geração comprometida com a redenção e o conseqüente progresso de uma sociedade. Alicerçar uma ideologia nessa nova geração é tarefa de todo teórico crítico e aberto, maduro e provocador; além disso, o mais importante é convencer a sociedade sobre a necessidade de se buscar uma alternativa de mudança propositiva aglutinando forças sociais em torno desse projeto macro. Só assim, será possível estabelecer a ruptura necessária e urgente para tão sonhada mudança efetiva da estrutura de poder.
Enfim, acreditar no impossível é condição essencial para preparar o processo de mudança da estrutura social conservadora onde impera a força opressora e daninha. O povo precisa compreender a importância de sua força e de sua intervenção na perspectiva da transformação do poder político para outro completamente diferente e sustentado na transparência e na democracia. Nesse processo, consigo enxergar de maneira lúcida a construção de alternativas com assento na capacidade do homem renovar-se permanentemente sem perder sua ternura e sua ética.      
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1. A ideia é basicamente aproximar o homem da realidade que circunscreve sua existência numa condição alienante. Portanto, é necessário que ele tome consciência de si e do mundo apreendendo todos os recursos sociais para estimular sua própria ruptura com o processo alienante que, ideologicamente, o aliena política, social, cultural e economicamente e, a partir dessa irrupção, passe a vislumbrar uma nova formulação teórica democrático-libertária. Na verdade, o homem se reconhece como ser alienado a partir do instante que inicia o processo de avaliação da realidade social que o circunda e, logo em seguida - se apresenta na condição de crítico -, estabelecendo uma nova relação diante da realidade social que anteriormente desconhecia como alienada-alienante. Não é tarefa fácil ao homem romper com um ciclo cultural histórico de dominação imposto por uma classe, de um momento para outro. Evidentemente que, a partir da discussão sobre a realidade social ele por si só, perceberá o notável papel que desempenha no seio dessa realidade e, ao mesmo tempo, sua força o empurra para o campo da liberdade e da democracia. Por isso, é fundamental que o homem se torne completo; integral na sua concepção política e na sua formação ideológica; libertando-se das relações de subordinação e inferioridade. O homem deve acreditar em si mesmo como indivíduo social e capaz de superar os processos opressivos construídos pelas elites dominantes.           
2. A história, aparentemente, apresenta-nos uma concepção extremamente valiosa sob o ponto de vista do desenvolvimento econômico (e, nesse espectro, prioriza-se a condição humana numa prospecção verticalista, isto é, introduz o instrumental ideológico para controlar a sociedade e seus mais refinados membros que, diretamente, desejam fazer parte constitutiva do rol de ‘iluminados’ e da casta dominante. Tudo, absolutamente tudo, está subordinado ao mercado, inclusive, o próprio homem como produto vendável (é raro encontrarmos um diamante límpido, livre dos processos maculáveis do neoliberalismo). A sublimação articulada aqui, expressa, por sua vez, a condição estrutural que o homem se encontra e se depara ante a ideologia burguesa. De um lado, temos alguns processos de ordem estritamente políticos (que geraram a fragilização do Sistema Socialista do Leste Europeu – começando com a queda do Muro de Berlim e etc.), e, de outro, a recuperação do Sistema Capitalista (com uma nova nomenclatura de neoliberalismo) dando conta de que é capaz de resolver todos os problemas existentes. Nesse processo circunscreve-se o elemento irradiador da existência do próprio capitalismo: o homem potencializado e produtor. É necessário afirmar aqui, que, tal homem seduzido e encantado pelo discurso da Nova (des) ordem mundial, naturalizou sua própria condição humana enquanto ser social, isto é, ideologicamente. A desnaturalização do processo ético-moral – numa perspectiva histórico-socialista - coloca para o individuo a necessidade de fazer uma opção por um campo moral de forma irredutível, ou seja, romper com o círculo vicioso que consome ferozmente a sua identidade e a própria razão de ser no/para o mundo. Por isso, o homem deve conhecer a si e ao mundo de modo profundo, sem perder de vista sua condição cidadã.