segunda-feira, 11 de julho de 2011

COLOSSAL ITAPECURÚ


Outrora, foi o mais navegado,
Viveu uma vida de agitação,
Teve em tua orla uma esquadra
Granjeaste notoriedade e respeito
Promovendo a revolução marítima
Permitiste a edificação do “Porto do Dique”
Que o tempo se encarregou de extinguí-lo.

O tempo passou e você envelheceu, porém,
Vives e respiras,
Tuas imensas margens  sentiu,
A dor da destruição, teu lindo verde,
Perdeu a cor-vida,
Tuas límpidas águas,
Hoje, já não serve para abastecer e saciar
A sede do homem como dantes.

A modernidade e o progresso impuseram
Uma nova rota,
Baseada na ambição desmedida,
Canhestra,
Para ferir-te na alma e no coração.

Em nome da tecnologia globalizada
E do desenvolvimento econômico
Fizeram projetos
De curto prazo
E ganho real imediato
Provocando a distribuição rápida de tua vida.

Ao longo de tua extensão,
Banhas diversas
Cidades, todas,
Sem exceção, produzem,
Silenciosamente a morte cálida
Monstruosa de teu manancial.

Gravita um ar pesado
Contaminando,
Envenenando,
Rondando e titubeando
Em sua volta.

A construção de hospitais,
Fábricas e outros similares
Ao lado de suas margens
Demoliu tua essência, tua fertilidade,
Tua transparência.
Já não mais encantas,
Tua vegetação frondosa
Já não é a mesma,
Tua brandura foi quebrada.

Já não respiras o mesmo ar,
Tua imponência fora arrastada
Pelos detritos, dejetos e tantos
Outros resíduos que te sufocas;
Os peixes já não pulam de alegria,
E, sim, agonizam e pedem oxigênio,
Emergem sem forças para nadar ou respirar
Encontram-se à margem e ali mesmo despedem-se
De seu habitat.
O sol castigante queimam-lhes
Suas escamas e a ausência de água paralisam-lhes
Os seus suaves e melódicos movimentos,
A morte é a sua próxima parada.

Ô grande rio,
Não te apavores,
Tens ainda
Uma extraordinária força que te guardará.

Ô bravo guerreiro continue assim:
Forte,
Resistente,
Firme,
Imponente
E vingativo

quinta-feira, 7 de julho de 2011

ONTEM VI UM OLHAR


Ontem vi um olhar
Moribundo clamando
Sua vida que ia escoando
Ralo a fora.

Ontem vi um olhar
Melancólico cheio de dor
Querendo um abraço fraterno.

Ontem vi um olhar
“Capenga”  dizendo coisas simples
Tentando mostrar sua dura realidade.

Ontem vi um olhar
Furioso marcando território
Para negociar o “éter” do prazer

Ontem vi um olhar
Desejando uma casa para morar
Mesmo que fosse de sapê.

Ontem vi um olhar
Reflexivo buscando
Um horizonte há muito perdido.

Ontem vi um olhar
Contente, haveria
De cheirar muita cola de sapateiro.

Ontem vi um olhar
Recriminador acusando injustamente
Outro olhar faminto de um menino de rua.

Ontem vi um olhar
Dissimulado de um “respeitado” executivo
Aliciando uma adolescente socialmente deserdada.

Ontem vi um olhar
Reprovador do poder público
Sem querer assumir sua função administrativa.

Ontem vi um olhar
De um político maquiavélico enriquecer
Mais ainda, usurpando o erário público.

Ontem vi um olhar
Sisudo, honrado,
Lutando
Contra o político maquiavélico.

Ontem vi um olhar
Marginal, observando o outro lado da rua
Desejando a liberdade e sorrir.

Ontem vi um olhar
Sádico, pelejando contra a inocência
Das crianças brincando nas praças e pátios de escolas.

Ontem vi um olhar
Psicopata,  a espreitar um menino dormindo
Suavemente no banco de uma praça
Sem saber se acordaria
Para ver um novo dia.

Ontem vi um olhar
Vendedor, distribuindo o "pó" suave da morte
Para os jovens em pleno dia.

Ontem vi um olhar
Prostituto, pedindo socorro
Para se livrar
Dessa “maldita vida”.

Ontem vi um olhar
Renascer dos escombros
Depois de um tempo na “berlinda dos guetos”.

Ontem vi um olhar
Tristonho, sem ter o que fazer
Pois, nada tem para fazer.

Ontem vi um olhar
Secar sua última lágrima de felicidade
Por reencontrar o caminho de volta à vida.

Ontem vi um olhar
Crítico, sem saber
O que criticar diante de tanta miséria e fome.

Hoje, ainda
Não vi nenhum olhar
Moribundo, melancólico, “capenga”, furioso, reflexivo, contente,
Recriminador, dissimulado, reprovador, maquiavélico, sisudo, marginal, sádico, psicopata, “vendedor”, prostituto, tristonho, seco e crítico;
Porque ainda é muito cedo!

quarta-feira, 6 de julho de 2011

CLAMOR DE UM MENOR ABANDONADO (CONTRADIÇÃO SOCIAL)


Aonde posso encontrar a essência do saber
Se me proíbes de ter acesso à escola?
Aonde posso exercer minha cidadania
Se castras meus direitos de criança e me marginalizas?
Aonde posso encontrar minha liberdade
Se me acusas de desordeiro e me reprimes?
Aonde posso praticar a democracia
Se o regime que me oferece é injusto e excludente?

Aonde trabalharão meus pais
Se a terra que lhe pertencia fora-lhe tirada?
Como posso falar de justiça social
Se minha família vive em absoluta miséria,
Sem teto para morar, sem emprego?
Como posso falar de igualdade social,
Quando existe uma indisfarçável disparidade sócio-econômica
E concentração de riquezas em poucas mãos?

Diante de tanta contradição, desrespeito
E desatino,
Como poderei formar uma moral, uma ética ilibada,
Moldada na pluralidade e no respeito ao próximo;
Se os exemplos e atitudes,
Gestos, virtudes e ações praticadas
Reflete os amálgamas da corrupção, formação de quadrilhas
E impunidade perante as incontestes provas
Constadas dos autos acusatórios.

Sou fruto de uma sociedade perversa e elitista e privilegiada.
Se hoje, sou maltrapilho, delinqüente ou marginal,
Saibam que essa escolha – ou como queiram alguns – opção;
Não coube a mim fazê-la e, sim, uma camarilha de verdugos
Reacionários, desonestos e insensíveis,
Incapazes de perceberem
O dilema social em que vive a grande família brasileira!

Na verdade, sou fruto da ambição excessiva de capitalistas
Inescrupulosos que matam à míngua,
Para viverem na suntuosidade do lucro e concentração do capital.

Não! Eu não quero ser esse farrapo humano,
Originário de uma decisão elaborada em gabinetes.
Esse aspecto tísico inflama repúdio daqueles que me cercam;
Sou motivo de risos, escárnios e comentários ridículos.

Desejaria sim, de sentir calor humano,
Conforto espiritual, ter apoio moral para restituir minha cidadania
Conduzindo-me para um caminho promissor,
Um horizonte iluminado,
Santir-me-ía  feliz e, de uma vez por toda,
Mostraria minha capacidade
Para o trabalho produtivo
E o meu potencial humano.
Dei-me apenas uma chance para poder reconstruir
Minha quase esquecida vida
E minha sonhada liberdade.

O meu país permite apenas sonhar e sonhar,
Não quero viver tão-somente de sonhos e paixões telúricas;
Na verdade, quero poder expressar minha potencialidade
Minha utilidade;
Mostrar que não é só os doutos e sábios que são dotados
De inteligência para conduzir os destinos de meu país e de meu povo.
O que desejo apenas é ter uma oportunidade
E demonstrar que,
Quem é destituído
De riquezas e diplomas também conhece a realidade social;
 Não estou pedindo nada indecoroso ou mesmo impossível.

O que não quero de verdade mesmo
É ser objeto de outrem;
Impossibilitado de desafiar,
E lutar por minha liberdade inalienável.

O meu grande medo de verdade, é de ser deformado,
Ferido na alma e perder a coragem inquebrantável
De perseguir o meu incólume sonho de vencer
E crescer numa sociedade verdadeiramente democrática,
Justa, fraterna,
Solidária
E inclusiva.
Onde posso, efetivamente,
Exercer meus mais elementares direitos de criança
E no futuro,
Ser um cidadão digno, livre e respeitado.

É só isso que quero!