Aonde posso encontrar a essência do saber
Se me proíbes de ter acesso à escola?
Aonde posso exercer minha cidadania
Se castras meus direitos de criança e me marginalizas?
Aonde posso encontrar minha liberdade
Se me acusas de desordeiro e me reprimes?
Aonde posso praticar a democracia
Se o regime que me oferece é injusto e excludente?
Aonde trabalharão meus pais
Se a terra que lhe pertencia fora-lhe tirada?
Como posso falar de justiça social
Se minha família vive em absoluta miséria,
Sem teto para morar, sem emprego?
Como posso falar de igualdade social,
Quando existe uma indisfarçável disparidade sócio-econômica
E concentração de riquezas em poucas mãos?
Diante de tanta contradição, desrespeito
E desatino,
Como poderei formar uma moral, uma ética ilibada,
Moldada na pluralidade e no respeito ao próximo;
Se os exemplos e atitudes,
Gestos, virtudes e ações praticadas
Reflete os amálgamas da corrupção, formação de quadrilhas
E impunidade perante as incontestes provas
Constadas dos autos acusatórios.
Sou fruto de uma sociedade perversa e elitista e privilegiada.
Se hoje, sou maltrapilho, delinqüente ou marginal,
Saibam que essa escolha – ou como queiram alguns – opção;
Não coube a mim fazê-la e, sim, uma camarilha de verdugos
Reacionários, desonestos e insensíveis,
Incapazes de perceberem
O dilema social em que vive a grande família brasileira!
Na verdade, sou fruto da ambição excessiva de capitalistas
Inescrupulosos que matam à míngua,
Para viverem na suntuosidade do lucro e concentração do capital.
Não! Eu não quero ser esse farrapo humano,
Originário de uma decisão elaborada em gabinetes.
Esse aspecto tísico inflama repúdio daqueles que me cercam;
Sou motivo de risos, escárnios e comentários ridículos.
Desejaria sim, de sentir calor humano,
Conforto espiritual, ter apoio moral para restituir minha cidadania
Conduzindo-me para um caminho promissor,
Um horizonte iluminado,
Santir-me-ía feliz e, de uma vez por toda,
Mostraria minha capacidade
Para o trabalho produtivo
E o meu potencial humano.
Dei-me apenas uma chance para poder reconstruir
Minha quase esquecida vida
E minha sonhada liberdade.
O meu país permite apenas sonhar e sonhar,
Não quero viver tão-somente de sonhos e paixões telúricas;
Na verdade, quero poder expressar minha potencialidade
Minha utilidade;
Mostrar que não é só os doutos e sábios que são dotados
De inteligência para conduzir os destinos de meu país e de meu povo.
O que desejo apenas é ter uma oportunidade
E demonstrar que,
Quem é destituído
De riquezas e diplomas também conhece a realidade social;
Não estou pedindo nada indecoroso ou mesmo impossível.
O que não quero de verdade mesmo
É ser objeto de outrem;
Impossibilitado de desafiar,
E lutar por minha liberdade inalienável.
O meu grande medo de verdade, é de ser deformado,
Ferido na alma e perder a coragem inquebrantável
De perseguir o meu incólume sonho de vencer
E crescer numa sociedade verdadeiramente democrática,
Justa, fraterna,
Solidária
E inclusiva.
Onde posso, efetivamente,
Exercer meus mais elementares direitos de criança
E no futuro,
Ser um cidadão digno, livre e respeitado.
É só isso que quero!
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