terça-feira, 2 de agosto de 2011

PLANTAR, REGAR E COLHER A SEMENTE DO COMPROMISSO



INTRODUÇÃO
A história da Educação brasileira sempre foi permeada pela ausência de um projeto político ousado e com características democráticas. E, apesar disso, nós, trabalhadores da educação estivemos à frente de todos os embates na tentativa de propiciar as condições efetivas para a consecução de uma educação democrática, progressista, com qualidade social e, sobretudo, cidadã. Aqui, não pretendo utilizar uma metodologia rígida e seca para expor um ponto de vista de caráter explicitamente pedagógico para estabelecer uma crítica construtiva e tentar sensibilizar o conjunto de educadores para esse drama histórico que permeia a vida da maioria de nossos educandos, educandos esses oriundos da classe trabalhadora que necessitam de muito carinho, paixão e amor para suprir a ausência de afetividade familiar. Por isso mesmo, ouso delinear esse pequeno texto e expô-lo para a comunidade escolar avaliá-lo, oferecer idéias e alternativas para, juntos, resgatarmos verdadeiramente o sentido de vida e cidadania desses pequenos e carentes filhos de nossa gente.
Neste pequeno texto, não tenho a pretensão de revolucionar a teoria educacional e nem tampouco, desconstruir aquelas que foram edificadas com grande esforço intelectual de alguns excelentes pensadores como: Paulo Freire, Dermeval Saviane, Anísio Teixeira, Pedro Demo, Jussara Huffuman, Esther Pillar Grossi, Madalena Freire, José Carlos Libaneo, Moacir Gadotti, Eustaquio Romão, Carlos Brandão e etc., mas, desejo exprimir singelamente, um ponto de vista que abarque alguns pontos fundamentais e necessários para a reflexão de nossos profissionais da educação em nosso município. O primeiro trata da questão central de todo o processo ensino-aprendizagem: a responsabilidade com o sacerdócio em sala de aula; segundo compreender o processo ensino-aprendizagem como um todo e não como parte, terceiro construir uma metodologia que açambarque a dinâmica do processo global de apreensão do conhecimento produzido historicamente envolvendo os atores principais: os educandos, educadores, a comunidade e a própria escola.
Enquanto perdurar o discurso da “acusação” e da “omissão”, o ensino educacional permanecerá nas trevas e, por conta disso, os educandos sofrerão diretamente as terríveis conseqüências dessa prática condenável. Aqui, é necessário estabelecer uma pequena observação a respeito do discurso citado: quando trago à tona essa velha questão (o da “acusação” por parte do profissional da educação em relação a outro profissional que deixou de realizar uma determinada responsabilidade e “omissão”, por conta da própria “acusação”, usado neste caso, como escudo para não fazer sua correspondente função dentro da escola e, isso, tem causado um tremendo prejuízo para os educandos que deixam de ser atendidos pelos profissionais e aí nos deparamos com um quadro terrivelmente insano de descidadanização, efetivamente) é porque ela tem produzido um fetiche - no interior do sistema municipal de educação – onde se verifica uma onda de negligencia que resulta no empobrecimento intelectual do profissional e, com um agravante: a negação efetiva de seu papel enquanto mediador e colaborador do conhecimento científico no interior de sala de aula.
É chegado o momento crucial de cada profissional rever sua postura enquanto mediador do processo ensino-aprendizagem, recompor sua atitude em relação ao educando comprimindo dessa forma a relação social intensamente entre si, os educandos e a comunidade; e, finalmente, instituir em cada Unidade Escolar um Grupo ou um Círculo de Estudo que dê conta de toda essa conjuntura negativa e seja capaz de encontrar mecanismos para derrocar, em definitivo, a cruel realidade que persiste em nosso meio e, particularmente, em relação aos educandos.
Ao suscitar o espírito da arte de Plantar, Regar e Colher foram na perspectiva de oferecer alguns elementos imprescindíveis para se repensar e refazer um novo caminho, com uma nova filosofia e concepção pedagógica democrática. E nesta mesma linha de raciocínio tentaremos imprimir um ritmo cadenciado e harmônico tendo como resultado dessa nova cultura e práxis a Semente do Compromisso. Certamente, toda a política aqui introduzida se levada a cabo, obviamente, seu resultado final, será reconhecido e, ao mesmo tempo, o esforço depreendido por todos nessa empreitada gigantesca. E, de tudo isso feito, o que podemos tirar de lição é: verdadeiramente, valeu à pena lutar pela transformação dessa chaga denominada analfabetismo.
E é com esse espírito da arte de Plantar, Regar e Colher a Semente do Compromisso que lutarei sempre, para mudar nossa dramática realidade sócioeducacional mesmo nas mais adversas condições impostas pelas circunstancias históricas. A História exige de nós, apenas uma coisa: sensibilidade e compreensão. 
    DO DISCURSO TEÓRICO À PRAXIS PEDAGOGICA
A nossa história educacional sempre foi marcada pela “acusação” e “omissão” dos agentes políticos com graves conseqüências no meio dos profissionais da educação. Geralmente, a tendência que permeou o contexto educacional se revelou na prática apenas na fala destoante desses agentes políticos. Nunca dantes, havíamos testemunhado mudanças estruturais tão significativas em curto prazo de tempo como a que estamos vivenciando atualmente. Contudo, é preciso que façamos justiça às ações do atual Governo Municipal. Não pretendo entrar no mérito da questão, apenas frisar que o Sistema Municipal de Educação agora, está sendo revigorado e reestruturado. Partindo do pressuposto de que é real a possibilidade histórica de promovermos a tão sonhada educação inspirada nos ideais humanitários, com a participação da comunidade, consolidando ações afirmativas consubstanciando a democracia dentro das escolas, enfim, desconstruirmos toda uma prática nociva à nossa educação e demovendo aquelas ações caracterizadas pelo conservadorismo e tradicionalismo, o momento é, na verdade, de crescimento, amadurecimento e de reaprendizagem.
Qual é realmente a política a serem adotadas para quê todas as estúpidas e ferrenhas barreiras do ostracismo e do atraso efetivamente, seja derrotada? Que caminho seguiremos para, juntos, programarmos a verdadeira conjugação do verbo fazer e, fazer coletivamente acontecer o impossível? Que metodologia pode ser instituída visando à eliminação dos graves problemas identificados nas escolas e que precisam ser enfrentados corretamente e de frente?
Somente um caminho pode ser vislumbrado na tentativa de reconstituir todo o gigantesco processo ensino-aprendizagem deformado que se faz presente de maneira tão perversa: o desprendimento e a determinação em querer fazer quantas vezes forem necessárias para a supressão das barreiras restolhadas. É incrivelmente deslumbrante quando realizamos uma ação de pequeno porte, quase invisível, mas que tem uma dimensão estupenda, quando conseguimos de forma progressiva manipular – não no sentido da maldade – um sujeito, e fazê-lo sentir-se verdadeiramente, gente, valorizado!!! Isso não conta, apenas conquistamos uma merecida gratidão pelo feito e, isso é que vale, não é?
Por isso, é fundamental que nós profissionais da educação, aprendamos uma coisa: não é somente a teoria que dignifica o trabalho do operador da educação e de quaisquer que seja a função, mas, a práxis, sim, a práxis é o elemento singular e determinante associada à teoria para a realização de um ato simples e profundo que modificará para sempre a condição do sujeito envolvido no processo enquanto ser que pensa e se reconhece como crítico e cidadão no mundo e é no mundo que ele vai viver pensando e repensando sistematicamente sua existência. E para viver no mundo ele necessita da arma da crítica e não a “crítica das armas”.
É preciso ter coragem e ousadia - literalmente - para irromper com a cultura do discurso teórico apenas e, partir para uma nova situação tendo como epicentro, o novo ato de fazer e fazer sob novas condições, em que pese a participação direta do educador na possibilidade de refazer a antiga prática e ao mesmo tempo, instaurando a nova cultura, a cultura da práxis que fundamentará todo o processo de transformação. A nossa tarefa é imprescindível na construção da cidadania de cada educando, pois, cada um deles precisa sentir a sua afetividade, seu carinho, seu profundo amor e dedicação. 
Portanto, o ato de romper com a velha cultura e a inauguração de uma concepção pedagógica inteiramente nova, nos moldes democráticos ampliando assim, o lastro da arte de Plantar, Regar e Colher a Semente do Compromisso, verdadeiramente, levantará a auto-estima dos atores sociais envolvidos no processo rico de aprendizagem recíproca. Impossível enquanto educador em constatar o nível de aprendizagem dos educandos abaixo de suas necessidades prementes, isto, não é aceitável encontrarmos educandos no Ensino Fundamental das séries Iniciais e, até mesmo, as Finais, sem a capacidade de domínio dos três elementos constitutivos da cidadania humana: ler, escrever e contar.
É preciso que façamos alguma coisa. Não é mais tolerável essa condição cidadã, aliás, diga-se de passagem, que, isso não é condição é uma completa aberração do Sistema Municipal de Ensino. Aqui, não podemos deixar de fazer o seguinte questionamento: acuso o Sistema pelo fracasso escolar, mas, quem, está no interior do Sistema? E quem, de fato, é o responsável pelo processo ensino-aprendizado no seio das salas de aula? Então, é mister que façamos uma avaliação mais profunda de nossas condutas e práticas pedagógicas, sejamos, efetivamente, portadores de sonhos e concretude, mas, nunca colocarmo-nos como “omissos” diante de tal realidade perversa.       
QUEM É O VERDADEIRO CONSTRUTOR DA CIDADANIA?
Historicamente, enquanto elementos fundamentais (parte integrante) do processo de formação da consciência social do ser tivemos acesso a vários matizes que conduziram o Sistema Educacional Brasileiro, mas, se focarmos o “ente” o “ser social” enfrentaremos um dilema: quem é verdadeiramente o construtor da cidadania humana ou do sujeito histórico? Quem, de fato é o responsável pela formação social do ser humano? Bom, falando pedagogicamente, sem dúvida nenhuma, o responsável direto por esse processo fundamental da formação cidadã é o educador.  É no educador que se encontra os instrumentos essenciais para o desenvolvimento da política de formação social do humano. É no educador que se encontra as ferramentas indispensáveis para o aprimoramento e o conseqüente exercício da democracia e da cidadania humanizada entre os sujeitos aprendentes. É no educador que encontramos a pedra de toque que transformará inevitavelmente o sujeito humano num sujeito crítico e capaz de avaliar a realidade que o circunda. É no educador que o educando encontra a possibilidade de crescimento intelectual, é no educador que se encontra o alicerce fundamental para construir o homem integral e mais completo; com características virtuosas, prenhe do sentimento de respeito diante de seu semelhante, desprovido da ganância estúpida, porém, cauteloso, sem exasperação e dissimulação. O educador verdadeiro ou, de verdade, é aquele que se compreende como extensão e não somente como o transmissor do conhecimento de forma mecânica e fria, distante e separado dos educandos como se eles fossem uma espécie de ovnis. O educador deve sentir a alma de seu educando e penetrar fundo em seu mundo compartilhando experiências distintas e bastante ricas que contribuirão fortemente na supervalorização individual e coletiva dos sujeitos aprendentes do processo ensino-aprendizagem. O verdadeiro educador é aquele que rompe com o banal e o corriqueiro, expresso na inoperância e na profunda preguiça mental que agride fenomenalmente a simplicidade do ato de ensinar e ensinar bem.
A instituição educação não é um labirinto sem saída. Ela tem uma porta de entrada e uma de saída. Mas, nesse caminho a ser percorrido o educador é o elemento intrínseco que conduzirá o educando no rumo certo, sem sofrer traumas e nem interrupções abruptas que possa condená-lo ao fracasso escolar e o insucesso na vida profissional. Portanto, o educador jamais poderá deixar de fazer essas observações e muito menos deixar de avaliar a sua própria conduta e sua responsabilidade na formação cidadã dos educandos. Inevitavelmente, temos uma clara compreensão de nossa responsabilidade e de nosso compromisso ante o processo educacional. 
Na literatura sociológica e filosófica há uma categoria denominada alienação (tal processo pode ser compreendido numa perspectiva de libertação ou de opressão numa determinada sociedade, ou, ainda, dentro de uma determinada relação social) que compreende o processo invertido da lógica social em que o sujeito está submetido e não o entende como elemento que interfere brutal e diretamente no modo de viver e de relacionar-se sob a égide da ideologia de um determinado sistema social. E é exatamente neste ponto que quero chamar a atenção dos educadores. Você educador é um sujeito alienado ou desalienado? E, o que é um sujeito alienado? Ora, se de um lado, você afirmar que é um sujeito desalienado, sua afirmação só será reconhecida à medida que suas ações o acusar como tal, caso contrário, a tua afirmativa ainda permanece presa aos ditames do sistema ideológico tradicional e, por conseqüência, a manutenção desse mesmo sistema. Contudo, se de fato, compreenderes a necessidade de estabelecer a ruptura como alternativa ao sistema de dominação, então, terás que enfrentar a perspectiva da transformação permanente. E trabalhar na perspectiva da transformação permanente inevitavelmente estará construindo um processo de inovação e a inovação impõe diretamente o amadurecimento e a independência intelectual e, ao mesmo tempo, a construção de novos elementos para distinguir-se dos elementos estabelecidos de forma tradicional e conservadora que atendem ao sistema ideológico de dominação. Esses elementos é que comporão, agora, os novos arranjos pedagógicos que farão a grande diferença no processo ensino-aprendizagem marcadamente progressista e libertário.
Enquanto o educador não agir com autonomia e liberdade tentando irromper com o tradicional, a forma e o modelo do Sistema Educacional permanecerão o mesmo espírito atendendo aos interesses ideológicos do sistema de dominação. Ao introduzir o binômio autonomia/liberdade foi com a finalidade de provocar a reflexão de todos os educadores sobre seu papel social de formadores de cidadania. A nossa luta e o nosso pensamento é no sentido de incutir em cada educador e educadora a imperiosa necessidade de reavaliar sua conduta, sua competência pedagógica, seu papel social e o seu trabalho em sala de aula. Cabe a cada um de vós, a responsabilidade de promover a mais completa tarefa de transformação do educando, garantindo-lhes uma possível e melhor condição cidadã num futuro não tão equidistante. Por tudo isso, é necessário ter com clareza a filosofia e o conceito daquilo que denomino de Plantar, Regar e Colher a Semente do Compromisso. Nada pode ser comparado ao ato simples de estabelecermos ações que convergirão na transformação do ser social no interior de uma dada sociedade. É em nós, educadores, que repousa o espírito da verdadeira esperança do futuro, não podemos tergiversar desse valioso e incomensurável compromisso. É pleno de convicção que coloco o nosso trabalho digno e incomparável como trincheira para proporcionar a mudança de rumo de nossa sociedade. Essa intrépida tarefa não é inglória e não é impossível de ser realizada, basta querermos; tal evento somente gozará de seus positivos efeitos se tivermos a convicção de contribuir resolutamente idealizando suas possibilidades e perspectivas.
O sentido verdadeiro do ato de Plantar, Regar e Colher a Semente do Compromisso somente será percebido quando deixarmos de lado o discurso da “acusação” e o da “omissão”, aí, sim, essa política pedagógica conseguirá ser executada em sua plenitude com resultados excelentes, pois, o ato de ensinar estará sob uma nova condição e perspectiva: o da concretude.
A idéia epistemológica deste texto é propor uma autorrevolução individual em cada educador e educadora visando a sua própria reestruturação interna de pensar sobre a questão da responsabilidade e o compromisso de ser parceiro nesse processo importante de mudança e transformação radical do educando. É com o espírito aberto e cheio de possibilidades acreditando sempre que é possível sim, fazer e refazer uma mudança substancial naqueles sujeitos pequeninos “desprotegidos” e “despreparados” para a vida futura. O que não pode ocorrer mais é a permanência do discurso da “acusação e o da “omissão”, tendo como resultante disso, o crescente aumento dos indicadores do analfabetismo em nossa comunidade.
Somente com uma atitude nobre e com bastante serenidade por parte de todos os educadores e educadoras será possível Plantar, Regar e Colher a Semente do Compromisso. Nós estamos apostando nesse gesto simples dos educadores para edificarmos verdadeiramente uma escola democrática e participativa em que o educando seja, de fato, o fundamento prioritário de suas práticas em sala de aula. A nossa luta em priorizar o processo ensino-aprendizagem deve ser o elemento constitutivo para elevar a autoestima do educando e, ao mesmo tempo, estaremos proporcionando de forma efetiva, a possibilidade de dar as condições materiais e concretas para que ele (o sujeito) possa compreender a sua realidade social, e seja capaz de aferir uma avaliação com independência intelectual e autonomia. Não podemos mais perder tempo com a mediocridade e modo mecânico de estabelecer relações intrínsecas com os educandos na perspectiva conservadora provocando prejuízo aos mesmos.
Construir uma nova conduta com características progressistas e recoloque no centro da discussão a capacidade teórica dos educadores e os induzam a realizar uma prática pedagógica essencialmente dialética; sem nunca perder de vista os educandos como pano de fundo (considerando a necessária irrupção com os moldes tradicionais).
É, em nós, educadores e educadoras que se encerra a tarefa fundamental de edificarmos um processo cujo resultado tenderá a uma profunda redução dos indicadores sociais e educacionais. A concepção de Plantar, Regar e Colher a Semente do Compromisso compreende a seguinte proposição: a) desenvolver um trabalho que leve em conta o papel fundamental do educador de alfabetizar os educandos que estão cursando as séries iniciais e finais que não possuem ainda, o domínio básico da leitura, escrita e o cálculo; b) É inaceitável a constatação dessa realidade perversa, por isso, é imprescindível que seja feito um conjunto de ações coletivas (dentro das escolas) que indiquem um horizonte propício invertendo a atual lógica dos indicadores educacionais e sociais; c) Identificar, através de um diagnóstico prévio, aqueles educandos que não detêm o domínio clássico e básico do processo de apropriação do saber.
E, por fim, cabe elaborarmos uma interrogação simples a respeito do processo ensino-aprendizagem: quem é o responsável pelo ato de ensinar em sala de aula?

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