sábado, 3 de setembro de 2011

UMA ISTORIETA PARA REFLETIR


Quem dera tivesse a inteligência de Rui Barbosa – O Águia de Haia -, para transpor barreiras além-fronteiras com o toque magistral da escrita e denunciar as mazelas sociais que teimam resistir, produzindo cada vez mais, um contingente de miseráveis e oprimidos;
Quem dera tivesse a imponente força intelectual de Karl Marx – o pai do Materialismo Histórico e o Materialismo Dialético -, para compreender melhor a Economia Política e toda sua vasta evolução e complexidade, garantindo, assim, sua reprodução e exploração do capital sobre o trabalho, contudo, propondo uma nova alternativa: a redistribuição da acumulação capitalista para os despossuídos e explorados;
Quem dera tivesse a percepção e a mansidão do olhar de Cora Coralina – a poetisa autodidata -, para aprender a amar as pessoas e entender a alma do homem em sua plenitude e singeleza;
Quem dera tivesse o vigor, a coragem, a densidade e a ousadia de Paulo Freire – o revolucionário da Educação Popular -, para exprimir com toda força de minha alma, a paixão pelos oprimidos e explorados de todo o mundo, ofertando uma educação de qualidade para todos;
Apesar dos pesares, há uma profunda determinação em minhas entranhas que me diz seguir firmemente o caminho da liberdade e da luta em defesa do imaginário popular, fazendo sangrar na ponta da pena as aventuras do cotidiano do ser humano para sobreviver na permissividade promovida pelo brutal e insensível sistema capitalista. Apesar de minha parca limitação teórica, decidi com certa temeridade – voar no mundo misterioso e abstrato da fantasia e da imaginação -, construir uma Istorieta para ilustrar um fato, mas, repito tudo é obra do imaginário humano.
Então, vamos à Istorieta? Ela tem uma linguagem acessível, simples e de fácil entendimento ao leitor comum. Eu sonhei com essa istorieta viu, como é bom sonhar!!!    
Todo o evento aqui imaginado acontece numa cidadela pobre e pacata de porte médio, com uma geografia bastante favorável ao desenvolvimento social. Sua economia é essencialmente agrária, a maioria dos habitantes possui um poder aquisitivo muito pequeno. Possui problemas de toda ordem: econômico, educacional, saneamento básico, infraestrutura, cultural etc. Subitamente, aparece um cidadão com um discurso da mudança e do novo e quer a qualquer custo governar essa cidadela pobre e pacata, afirmando que irá torná-la uma capital mais desenvolvida do país, no caso, São Paulo. Mas, para governar essa cidadela ele precisa superar algumas barreiras e alguns limites. Esta istorieta servirá como instrumento para a sociedade refletir sobre a realidade social em que se encontra a sua cidade de verdade. Aquela em que você mora, vive e se relaciona. Pense e reflita sobre o que está posto nessa pequena istorieta!
Boa leitura!
O SONHO DE CONQUISTAS: MERA ILUSÃO
PARTE I
Numa determinada cidadela pobre e pacata reside um poderoso gigante. A sua residência tem uma arquitetura pós-moderna e é comparada a um palácio de inverno europeu daqueles imperadores malvados e sebosos. E este poderoso gigante deseja e sonha um dia governar tal cidadela pobre e pacata. E para alcançar esse alucinado desejo e sonho, construiu, sob a orientação de seus súditos e bajuladores mais íntimos um aparato midiático – rádio e televisão -, objetivando, dessa maneira, divulgar sua imagem de homem bom e de bem – uma imagem invertida da real imagem verdadeira.
A cidadela pobre e pacata que o poderoso gigante pretende governar e instaurar uma grande revolução social - isto, sob a óptica de seu pensamento neoliberal -, diga-se de passagem, aplicando um método utilizado no setor da iniciativa privada, com toda rigidez que lhe é peculiar ao regime de exploração e expropriação da força de trabalho alheia. Contudo, é necessário observar um pequeno detalhe que esbarra o sonho do poderoso gigante: os próprios moradores da cidadela pobre e pacata. Os habitantes da cidadela pobre e pacata sentem medo e pavor só de ouvir o poderoso gigante falar de seus sonhos e pretensões. Pois, todos já conhecem a metodologia empregada para obter mais-valia e ficar cada vez mais rico, e os trabalhadores cada vez, mais miseráveis.
Esse poderoso gigante, agora, aparece, invariavelmente, nos meios de comunicação de massa falando que é a “salvação da lavoura”, o “salvador da pátria” e ninguém mais! Porém, a opinião pública (os moradores da cidadela pobre e pacata) já deve ter pensado sobre essa história e, no mínimo, chegaram à conclusão de que tudo isso é motivo de gracejo, e até mesmo uma piada de mau gosto. A opinião pública (isto é, os habitantes da cidadela pobre e pacata), entende que a tentativa do poderoso gigante de estar na rádio e na televisão expressando seus intentos, em nada mudará sua conhecida imagem negativa de pessoa que não merece confiança. Para a opinião pública (os moradores da cidadela pobre e pacata) a imagem desse poderoso gigante é semelhante à reconhecidissima ideia do “dólar furado”. Esse poderoso gigante possui características que assombram até mesmo aqueles que o conhecem e convivem mais de perto.
É muito evidente toda sua bazófia e empáfia.
O poderoso gigante não está inclinado à humildade, mas, ao contrário, exibe todo seu pedantismo e toda sua arrogância intolerável e, apesar disso tudo, tenta revelar-se sujeito comum e simples na sua fala, no seu relacionamento, mas, tenha cuidado isso é uma tática para enganar os inocentes. Esse poderoso gigante mergulha em seu ‘mar’ de ostentação, exibicionismo e esbraveja ser o ‘único’, o ‘infalível’, o ‘super-homem’, a ‘própria perfeição em pessoa’; para ele, tudo está errado. Somente sua fala é verdadeira e coerente, somente o que ele pensa é o certo, os demais meros mortais, são incapazes, incompetentes e mentirosos; esse comportamento maniqueísta é a denúncia e o anúncio da personificação niilista de quem, efetivamente, demonstra sua sede voraz de comandar com mão de ferro os seus subordinados (no caso, os habitantes da cidadela pobre e pacata). A cidadela pobre e pacata não precisa de um deus-terrreno, de um todo-poderoso (único, infalível), mas apenas de um homem comum, de vida e modo simples, com espírito de comunhão e um sentimento de solidariedade e igualdade para viver bem e tranquilamente entre eles. Os habitantes da cidadela pobre e pacata têm razões de sobra para impedir que o poderoso gigante realize seu alucinado sonho de governar a pobre e pacata cidadela segundo seus princípios privados.
Além de se auto-afirmar como uma solução perene para resolver definitivamente todos os problemas que existem na cidadela pobre e pacata, o poderoso gigante ainda propõe distribuir toda sua acumulada riqueza, caso não venha cumprir com os seus compromissos perante a opinião pública enquanto comandante supremo da cidadela pobre e pacata (perante os habitantes). Mas, é bom lembrar que nesta cidadela pobre e pacata, já apareceu – no passado não muito eqüidistante - outro cara de pau dizendo a mesma coisa, a mesma frase, inclusive, registrou o documento contendo o seu Programa de Governo num certo Cartório; esse cara de pau falava que a cidadela pobre e pacata tinha jeito sim! Mas ele não deu jeito em absolutamente nada! Tudo ficou de mal a pior. Olha esse negócio de falar que vai fazer e acontecer, é muito sério, pois, tivemos também, numa certa região de um país o mesmo fato! Ele se comprometeu fazer uma mudança profunda nessa região e quando foi levando a condição de comandante supremo da região, não deu a menor atenção ao documento registrado no Cartório. Bom, diante dessas duas amargas experiências o que nos resta dizer é que: esta história do poderoso gigante de distribuir os bens materiais acumulados não sei por quantos anos de trabalho incansável é pura balela, é conversa prá boi dormir e de verdade, viu? Não acreditem em nenhuma das duas propostas, tanto o compromisso de mudança como a distribuição de bens.
Ora, ora, ora, o poderoso gigante que desenvolve uma intensa campanha em favor de si mesmo, deve rever seu discurso, sua estratégia e sua tática política, pois, a opinião pública da cidadela pobre e pacata, está vacinada contra esse tipo de coisa e que não vai aceitar ‘goela abaixo’ mais uma maquinação, mais um engodo, que não vai trazer nenhum beneficio para os habitantes da cidadela pobre e pacata. O poderoso gigante não conhece a história da cidadela pobre e pacata, supôs que ao dispor seus bens estaria apresentando uma grande proposta inovadora e que todo mundo (os moradores da cidadela pobre e pacata) iria achar essa ideia o máximo e cairiam, mais uma vez, no conto do vigário, pois, tal fala desmascara o quanto ele está totalmente desprendido da realidade e não consegue ver que seu discurso é uma pura farsa e uma grande tragédia.

DO SONHO DE CONQUISTAS À DERROTA DO SONHO DE CONQUISTAR
PARTE II
A ideia de conquistar sonhos e realizar desejos é tão antiga quanto o próprio tempo existencial humano. Temos vários exemplos de homens que sonharam e tornou realidade seus sonhos, a saber: Thomas Edison (a lâmpada), Benjamin Franklin (a corrente elétrica, tendo como experiência uma pipa usada durante uma chuva), Graham Bell (a descoberta do Telefone), Santos Dumont (o aventureiro dos ares, e cuja invenção e patente, até hoje é reivindicada pelos EUA, afirmando que quem criou o avião foram os irmãos Wrigth) e, outros tantos e tantos sonhadores que conseguiram materializar seus desejos. Contudo, voltemos à nossa istorieta que faz referencia ao imaginário do poderoso gigante que reside numa cidadela pobre e pacata e que sonha governá-la. Mas antes disso, vamos aqui filosofar um pouco sobre quem é realmente competente para governar e/ou gerenciar a cidadela pobre e pacata, se é o homem rico, no caso o poderoso gigante, que, a priori, está jogando bastante alto no seu desvelado sonho de governar a cidadela pobre e pacata ou, um homem pobre de recursos financeiros, porém, de compromisso e sério.   
A capacidade orgânica e intelectual de qualquer sujeito é percebida na medida em que verificamos o nível e a forma como o sujeito utiliza seu discurso ou, melhor, quando demonstra um grau de conhecimento sobre determinado tema e/ou tendência da ciência pós-moderna. A sua fala tem coerência e substancia e é dialética. Para identificarmos um sujeito alienado ou não basta que prestemos atenção ao nível de seu vocabulário se é amplo, elástico, ou, então, é verdadeiro “papagaio de pirata”, fala de maneira mecânica e repetitivamente sobre quaisquer conteúdos, não apresenta domínio profundo sobre as questões pertinentes e que lhe são abordadas. A capacidade orgânica intelectual do sujeito é, por assim dizer, a expressão inequívoca de todo homem desalienado e reestruturado no cenário social, político, econômico e cultural e etc. Mas, mesmo tendo esse mecanismo à sua disposição, às vezes, ou, repetidas vezes, constatamos sujeitos que não conseguem libertar-se de suas reificações, negando-se e renegando-se. Ora, em nossa cidadela pobre e pacata essa questão é crucial. Pois, encontramos grandes dificuldades para descobrirmos um sujeito com as características desse nível. A cultural da cidadela pobre e pacata ainda reside na crendice de que quem sabe governar é somente o homem abastado. E é nessa linha de pensamento que o poderoso gigante vai querer apostar todas as suas fichas, ‘pobre diabo’, ainda não compreendeu que carrega consigo um terrível karma da antipatia em relação aos habitantes da cidadela pobre e pacata. Essa será uma grande barreira a ser superada pelo poderoso gigante na tentativa de conseguir conquistar seu sonho e desejo de governar a cidadela pobre e pacata com sua gente humilde e sofrida. Mas, é bom avaliarmos que já tivemos duas experiências entre homens – um rico e o outro pobre - que sonhavam e desejavam comandar essa cidadela pobre e pacata. E o resultado disso foi que o homem rico não ganhou do homem pobre. Mas, o homem pobre que ganhou do homem rico, também, não fez muita coisa pelos habitantes da cidadela pobre e pacata, por causa disso, parece que ninguém mais acredita tanto no homem rico quanto no homem pobre... Por conta desse dilema a comunidade pobre e pacata já não sabe mais em quem acreditar e confiar! E aí, o que fazer?
A decisão está de fato, nas mãos dos habitantes. Somente a comunidade é capaz de definir e traçar o seu destino. O poderoso gigante, certamente, está avaliando criteriosamente o seu sonho e desejo que não é, certamente, o sonho e o desejo da comunidade pobre e pacata. De uma coisa tenho plena convicção: aos moradores cabe-lhe a decisão final, não há outra força igual ou maior que a deles capaz de legitimar uma pessoa para comandar o seu destino. Diante disso, a comunidade precisa ter bom senso, equilíbrio e razão para não cometer equívocos que possa comprometer o nível de desenvolvimento da pobre e pacata cidadela.
A nossa istorieta coloca no imaginário do povo da cidadela pobre e pacata, a possibilidade de um poderoso gigante querer governá-la, mas, será que essa magistral e tinhosa ideia que permeia o vibrante cérebro desse poderoso gigante terá, efetivamente, uma resposta pronta e positiva em relação a ele? Creio ser muito difícil, diria mesmo, impossível, dado o grau elevado de rejeição sobre o citado epifenômeno  político recém-descoberto. Quantas e quantas vezes serão necessárias imprimir uma tática através dos meios de comunicação de massas tentando convencer a comunidade da cidadela pobre e pacata de que ele é o caminho mais seguro, a ponte mais rápida para chegar ao outro lado com segurança; e, certamente, o perfeito cavalheiro para conduzir a dama da cidadela pobre e pacata mergulhando-a na mais bela e segura cidade da região.
Sabemos que essa sandice é imprópria. Tal ilusão pessoal de conquistar mais um desejo maior exprime toda capacidade infinita de sede pelo poder e pela conquista desenfreada, custe o que custar, mas, permanece firme o incontrolável desejo de querer ser o grande - tenho a sensação de que ele encarna o espírito do maior conquistador de todos os tempos na História da Humanidade: Alexandre, O Grande... que loucura!
Nele é presente a inquietude da confiança e da credibilidade (no seguinte aspecto: de um lado, tenta colocar-se como um homem de forte sensibilidade, porém, seus atos e atitudes refletem o contrário; e, de outro, tudo que fala tem um tom de garantia do falado, visando transmitir afetivamente um sentimento de segurança, cujo propósito é ludibriar quem é próximo e a quem deseja conquistar), mas, tratando-se, sobretudo, do idealismo de conquistar a cidadela pobre e pacata o poderoso gigante perde força à medida que se manifesta como o mais perfeito gestor.  Malbaratado se perde em seu próprio mundinho da economia concentradora de capital.
Virgem Maria... Um detalhe: o seu legado não é daqueles mais decentes pelo que se contam! Mas tudo vale à pena tentar fazer, quem sabem, não é hora da agonia e a prova dos nove do poderoso gigante se submeter? Hâ!?
Só um último recado para o povo da cidadela pobre e pacata: cuidado é possível que um lobo se transforme num cordeiro e, depois, retornar para a primeira feição! Que istoria magnífica! adorei sonhar!     

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